AGROTÓXICOS E A “PL DO VENENO”

Saiba como se classificam os agrotóxicos e os problemas que eles podem trazer ao meio ambiente

Na última segunda-feira (25) a bancada ruralista da Câmara dos Deputados aprovou relatório favorável à chamada “PL do veneno”. A proposta revoga a lei de 1989 e altera e flexibiliza as regras de produção, comercialização e distribuição de agrotóxicos. Entre outras alterações, o projeto aprovado determina a mudança do nome “agrotóxico” para “defensivos agrícolas” ou “produtos fitossanitários”, retira do IBAMA e da ANVISA as atribuições constitucionais que os permite participar diretamente do processo de licenciamento. Esses órgãos passariam apenas a homologar os pareceres dos próprios fabricantes.

Pelas regras atuais, um agrotóxico só pode entrar no mercado brasileiro se

• – tiver sua eficácia contra uma determinada praga comprovada;
• – não causar prejuízos ao meio ambiente;
• – não deixar resíduos capazes de afetar a saúde humana nos alimentos.

Agora, na prática, poderemos ter agrotóxicos com características cancerígenas e mutagênicas e que causam prejuízo ao meio ambiente no mercado nacional.

A Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) conduziram uma pesquisa entre 2007 e 2014 para avaliar os impactos do uso de agrotóxicos na saúde humana e no meio ambiente, concentrado no município de Lucas do Rio Verde (MT). Essa pesquisa revelou contaminação por resíduos de diversos tipos de agrotóxicos em 83% dos 12 poços de água potável (nas escolas e cidades), 56% das amostras de chuva recolhidas no pátio das escolas e 25% das amostras de ar, também no pátio das escolas.

O documentário “Nuvens de Veneno”, baseado nessas pesquisas, mostra como a aplicação de agrotóxicos por via aérea ou terrestre atinge não só as lavouras, mas também toda a região do entorno, inclusive fontes de água que servem para abastecimento local.

 

CLASSIFICAÇÃO DE AGROTÓXICOS

Agrotóxicos podem ser classificados de acordo com o uso, com o grupo químico a que pertencem (organofosforados, carbamatos, piretroides ou organoclorados) e de acordo com sua toxicidade.

Essa última classificação é dividida em Classes (I – extremamente tóxico, em que apenas algumas gotas podem matar uma pessoa – a V – muito pouco tóxicos, em que há necessidade de dois copos a um litro para serem letais).

Alguns agrotóxicos de grande importância ao meio ambiente:

• -Organoclorados: São absorvidos pelos seres humanos por via oral, respiratória e dérmica e agem sobre o sistema nervoso central, causando cefaleia persistente, tremores e convulsões entre outros sintomas. São altamente cumulativos e se acumulam nos tecidos adiposos devido a sua alta lipossolubilidade. São transportados facilmente pela chuva para rios e lagos e podem infiltrar-se no solo e assim contaminar águas subterrâneas. Cerca de 25% da produção de organoclorados chegam ao mar por meio da atmosfera, podendo contaminar a cadeia alimentar oceânica. Já é possível encontrar organoclorados até na neve do Alasca.
• -Organofosforados: Assim como organoclorados, podem ser absorvidos por via oral, respiratória e dérmica e agem no organismo humano como inibidores da enzima colinesterase, causando desde cefaleia e enjoo a cianoses, coma e paralisia graves. Apesar de apresentarem tempo de meia-vida relativamente curto, resíduos desses compostos podem permanecer na água e atingir fontes de abastecimento. Além disso, são extremamente tóxicos e provocam efeitos crônicos a invertebrados e vertebrados.
• -Paraquat: É um herbicida cuja via principal de absorção em seres humanos é oral. Uma vez no organismo, podem causar fibrose pulmonar e falência simultânea de vários órgãos, resultando em morte rápida. É muito solúvel em água, portanto sua contaminação é muito preocupante pois esses compostos são facilmente carregados pela chuva. O paraquat apresenta alta persistência no meio ambiente. Apresenta estabilidade química e tem capacidade de afetar grande região devido a sua volatilidade.
• -Carbamatos: Assim como os organofosforados, são inibidores da acetilcolinesterase. Provocam o acúmulo de acetilcolina e estimulam o sistema nervoso central nos seres humanos. Sua toxicidade é tão grave quando à dos organofosforados.

Concluindo:

Os agrotóxicos podem entrar no organismo pela pele, nariz ou boca. Portanto, é muito importante que as pessoas que manipulam esses produtos utilizem os equipamentos de proteção corretos. No mínimo máscara com filtro, óculos de proteção, avental plástico e botas de borracha. Porém, infelizmente, não é essa a realidade encontrada no Brasil na maioria dos casos.

 

 

 

 

Com a flexibilização das leis, os riscos são maiores, não somente à saúde dos trabalhadores de lavouras. Também de toda a população que entrará em contato com os produtos alimentícios ou fontes de água contaminadas.